A Guerra Fria foi um período de tensão permanente entre os Estados Unidos e a União Soviética que se estendeu entre o fim da II Guerra Mundial (1945) e a caída do muro de Berlim (1990). Essa tensão envolvia a disputa pela liderança mundial entre dois sistemas econômicos e sociais opostos: o capitalismo (sustentado pelos EUA) e o comunismo (sustentado pela URSS).
Foi um período de conflitos por áreas de influência o que gerou confrontos armados e derrubadas de governo, e pela disputa armamentista e tecnológica que alimentou a corrida espacial e os testes atômicos em todo planeta.
As disputas vinham sempre embaladas sob uma poderosa propaganda ideológica em que cada lado enaltecia seu sistema e repudiava o outro.
** No final do artigo, inscrição para o download dos 14 cartazes incluindo questões e respostas**
Ideologia: uma breve explicação
Ideologia (do grego, idea, “ideia”, e logos, “discurso, retórica”) significa um discurso sobre as ideias. Portanto, a grosso modo, ideologia é o ideário, isto é, o conjunto de ideias, pensamentos, visões de mundo, doutrinas ou princípios que orientam as ações sociais e políticas de um indivíduo ou de um grupo.
A ideologia pode servir de instrumento de dominação que age por meio de convencimento (portanto, sem uso da força física) utilizando recursos emocionais ou simbólicos para induzir alguém a aceitar uma ideia, uma teoria, uma crença e/ou agir de determinada maneira. A ideologia está presente na política, na religião, na prática social e na cultura de uma sociedade.
A Guerra Fria foi, também, uma guerra ideológica uma vez que capitalismo e comunismo são dois sistemas políticos, econômicos e sociais antagônicos, baseados em princípios opostos de direção e organização da sociedade.
As diferenças entre capitalismo e comunismo
As diferenças fundamentais entre capitalismo e comunismo tem a ver com a propriedade – privada ou coletiva – dos meios de produção. Em torno dela, desenvolvem-se outros aspectos diferenciadores que, em síntese são os seguintes:
- O capitalismo se baseia no direito à propriedade privada que permite ao dono dos meios de produção concentrar a mais-valia (“lucros”). Defende o mercado livre e a livre concorrência baseada na não-intervenção do Estado na economia. O Estado deve garantir os direitos individuais e a propriedade privada. Incentiva o consumismo, o mérito e a iniciativa individual. Critica o comunismo pela falta de liberdade e de impedir o enriquecimento individual, pela excessiva centralização do poder que conduz a ditaduras e regimes autoritários.
- O comunismo se baseia na propriedade coletiva dos meios de produção e na distribuição equitativa das riquezas. O Estado intervém e planifica a economia para garantir a igualdade de oportunidades e a redistribuição das riquezas. Incentiva o coletivismo, a inclusão social e a solidariedade social. Valoriza a diversidade. Critica o capitalismo pela exploração da classe trabalhadora em benefício de uma minoria que acumula a maior parte do capital, pela profunda desigualdade social e não atender os mais oprimidos.
No período da Guerra Fria, as diferenças e divergências entre capitalismo e comunismo eram bem claras e definidas, como mostrado acima. Na atualidade, porém, os dois sistemas incorporaram alguns elementos um do outro de maneira que, mesmo permanecendo antagônicos, desdobraram-se em outros modelos de capitalismo e de comunismo.
A propaganda ideológica da Guerra Fria
A propaganda ideológica do capitalismo e do comunismo não surgiu na Guerra Fria. Ela já vinha ocorrendo desde os anos de 1920, com a consolidação do comunismo na Rússia; cresceu na década de 1930 no período da Grande Depressão que afetou os países capitalistas (vide Crise de 1929), e intensificou-se em nível global depois do fim da II Guerra Mundial e no contexto da Guerra Fria.

“Menos de 5 [dias] para se prevenir da sabotagem comunista! (…) Não às ações comunistas. Não à proibição de pesquisas científicas. Não à aventura financeira”, diz o cartaz de campanha eleitoral de 1935, na Suíça. A foice e do martelo, símbolo comunista, ameaçam decepar a cabeça de Genebra, cidade suíça.
A propaganda e a guerra ideológica provocaram, em ambos os lados, a perseguição de cidadãos que não se alinhassem ao sistema e, por isso, eram acusados de subversão e traição resultando em perda do emprego, prisão e, em alguns casos, à pena de morte.
Nos EUA, a campanha anticomunista levantou suspeitas contra muitos artistas. O Comitê de Atividades Antiamericanas elaborou a Lista Negra de Hollywood com nomes de roteiristas, atores, diretores, músicos e demais artistas apontados como simpatizantes do comunismo ou com ligações com a URSS e, por isso, deveriam ser boicotados. Eles foram demitidos ou ficaram sob cerrada vigilância de seus colegas e superiores, e dos agentes federais.
A propaganda capitalista e anticomunista
A propaganda anticomunista foi produzida em muitos países alinhados aos Estados Unidos, como França, Itália, Espanha e o Reino Unido. Estendeu-se também aos países da África, Ásia e América Latina que estavam sob a hegemonia norte-americana.
A propaganda capitalista e anticomunista exaltava a liberdade de expressão, as facilidades de consumo e as oportunidades de enriquecimento proporcionadas pelo capitalismo. Em contrapartida, denunciava que no comunismo não havia liberdade, o Estado comunista controlava tudo e tomava as terras e casas, a produção industrial era obsoleta, a agricultura deficiente e a população vivia infeliz e sem motivação resultando em altas taxas de suicídio.
- “Nós somos felizes”, charge de Phil, revista “L’Espoir français”, França,1935.
- “A pomba que faz bum”, cartaz francês antisoviético, 1952.
- “Este é o amanhã: América: sob o comunismo!”, capa da HQ, editora Guilda Catecética, Minnesota, EUA, 1947.
- “As faculdades têm que contratar professores vermelhos?”, capa da revista “American Legion”, EUA, nov 1951.
- ”Defesa unida”, cartaz alemão, 1952.
- “Capitão América desafia hordas comunistas”, capa da HQ “Captain America”, n. 78, nov. 1954.
A propaganda soviética e anticapitalista
A propaganda soviética apontava as enormes desigualdades sociais, a miséria, o desemprego e a decadência moral (prostituição, drogas, pornografia etc.) do mundo capitalista. Denunciava o racismo e o preconceito existentes nos países capitalistas como as leis discriminatórias e as violências contra a população negra dos Estados Unidos.
Em contrapartida, ressaltava a superioridade do regime comunista, em que o Estado garantia emprego, educação e moradia para o cidadão. Valorizava o espírito coletivista da sociedade comunista em que a produção industrial e agrícola era distribuída de maneira equitativa à população. Destacava que a economia comunista era planificada evitando crises econômicas e oscilações financeiras tão comuns nos países capitalistas.
- Vergonha americana”, cartaz soviético, 1968.
- “Se isso é liberdade, o que é prisão?”, cartaz soviético, 1968.
- “Eles só têm abundância para os ricos”, cartaz soviético, 1957.
- “Quem recebe a renda nacional?”, cartaz soviético de 1950.
- “Dois mundos – dois projetos”, cartaz soviético de 1950.
- A educação soviética e a americana, segundo o cartaz soviético de 1955.
- “O mundo vai comer guerra”, cartaz soviético publicado na Revista Krokodil, 1953.
- “A pomba de Washington”, título da charge de Boris Efimov, 1953.
Trabalhando os cartazes em sala de aula
Trabalhar a propaganda ideológica em sala de aula oportuniza aos estudantes confrontar dois modelos políticos da Guerra Fria, identificar suas tensões e os recursos simbólicos e subjetivos utilizados em seu discurso para convencer o leitor. Perceber que o desenho, a caracterização de personagens, as cores utilizadas, os títulos e as frases têm uma intencionalidade para induzir alguém a aceitar uma ideia, uma crença e/ou agir de determinada maneira. Trata-se, portanto, de uma atividade que problematiza a a própria imagem contribuindo para o estudante assumir uma atitude historiadora de análise crítica da fonte iconográfica.
São 14 imagens no total, sendo 6 de propaganda capitalista e 8 de propaganda comunista. Elas estão dispostas duas a duas em uma página A-4 (portanto, são 7 páginas com propaganda). Cada imagem tem um conjunto de questões de interpretação.
O professor pode distribuir uma página por grupo de alunos e determinar um tempo para eles concluírem as respostas. Em seguida, as páginas mudam de grupo, de maneira que toda a classe possa analisar todas ou a maior parte das imagens. Se o trabalho for aplicado a outras turmas, é aconselhável plastificar as páginas.
O arquivo de download inclui as respostas das questões e temas para um debate final com toda a classe.
Para baixar as IMAGENS e as RESPOSTAS das questões, inscreva-se abaixo.
Fonte
- ARBEX JR., José. Guerra Fria, terror de Estado, política e cultura. São Paulo: Moderna, 1997.
- FENELON, Déa R. A guerra fria. São Paulo: Brasiliense, 1983. Coleção Tudo é História.
- CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1981. Coleção Primeiros Passos.
- HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos, o breve século XX, 1941-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
- BOBBIO, Norberto. As Ideologias e o poder em crise. 4ªed. Brasília: UNB, 1999.
- BOURDIEU, P. O Poder Simbólico. Lisboa/Rio de Janeiro: DIFEL/Bertrand, 1989.
- VISENTINI, Paulo G. Fagundes e PEREIRA, Analúcia Danilevicz. História do mundo contemporâneo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
- BERSTEIN, Serge e MILZA, Pierre (dir.). História do século XX. V. 2: 1945-1973, o mundo entre a guerra e a paz. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.
- VILELA, Túlio. Quadrinhos e Guerra Fria: gibis retratam o conflito entre EUA e URSS. UOL Educação, 27 out 2005.
- SANTIAGO, Roberval. Cartoons e propaganda política. Revista Espacialidades (online), 2009, v. 2, n.1.
Maravilhosa aula Joelza. É meu próximo tema. Com um pouco de sorte consigo fazer as imagens chegarem aos alunos. Obrigado por minimizar meu trabalho. Texto perfeito!