A engenharia romana ainda surpreende os especialistas por sua ousadia, recursos técnicos e maquinário rudimentares e por sua incrível resistência e durabilidade. O que hoje está em ruínas foi causado por ação humana com a intenção de destruir ou de extrair material para outras construções.
Anfiteatros, circos, termas, teatros, basílicas, templos, aquedutos, colunas e arcos triunfos, pontes e estradas eram obras públicas da engenharia que aliavam beleza e luxo à utilidade. Eram obras feitas para o usufruto dos cidadãos e, ao mesmo tempo, destinadas a marcar a presença do Estado, o poder e riqueza do Império.
Coliseu
Entre as obras mais icônicas da engenharia de Roma Antiga está o Coliseu, nome popular do Anfiteatro Flávio, homenagem à família Flávia do imperador Vespasiano, que o mandou construir. Uma colossal estátua de Nero colocada nas proximidades, originou-lhe o apelido Colosseum (hoje Coliseu).
Inaugurado em 80 d.C., o Coliseu foi o maior anfiteatro do Império Romano, com capacidade para 50 mil pessoas acomodadas em arquibancadas. Tem o formato de elipse, medindo 188 m x 156 m, o que totaliza 524 m de circunferência externa. Com quatro andares, apoiados em pilastras e arcos, chegava a 57 m de altura.
No centro ficava a arena, palavra derivada do latim que significa “areia”, material que revestia o pavimento de madeira. Ali eram travadas as lutas de gladiadores e feras.
Abaixo da arena estavam as celas dos animais selvagens, salas para guardar os equipamentos, salas dos gladiadores e até um pequeno templo para eles rezarem aos seus deuses antes da luta.
As lutas começavam e acabavam pelas portas colocadas ao extremo do anfiteatro: o gladiador vitorioso saia da arena pela Porta Triumphalis (porta triunfal), o derrotado era retirado pela Porta Libitinesis, nome derivado de Libitina, deusa da morte e dos cadáveres.
Para proteger o público do sol forte, o Coliseu possuía uma cobertura de tecido, o velarium, que era estendido por um sistema de cordas e roldanas.
Imagens do Coliseu de hoje e sua reconstrução: clique aqui.
Gladiadores
Os gladiadores eram prisioneiros de guerra, condenados, escravos ou mesmo voluntários. Tinham entre 18 e 25 anos de idade, vinham de várias partes do Império e eram treinados em escolas especiais. As lutas duravam cerca de 10 a 15 minutos. O vencedor era premiado com moedas de prata. Alguns gladiadores ficaram famosos e enriqueceram tornando-se instrutores de jovens gladiadores.
A luta entre Vero e Prisco, ocorrida no primeiro dia da inauguração do Coliseu, foi o momento culminante de todos os jogos realizados. O resultado final foi incomum e único na história de Roma Antiga: ambos foram declarados vencedores e premiados pelo imperador Tito com a liberdade.
O combate foi registrado em um poema de Marco Valerio Marcial – é a única descrição pormenorizada que se conhece sobre esse costume romano.
Enquanto Prisco e Vero alongavam o confronto
E por longo tempo a luta foi igual de ambos os lados,
Altos e repetidos gritos reclamavam a liberdade para os homens;
Mas César seguiu a sua própria lei; —
Era a lei de lutar com o escudo até que um dedo se levantasse: —
Fez o que lhe era permitido, muitas vezes deu comida e presentes.
Mas chegou-se ao final com a mesma igualdade:
Iguais a lutar, iguais a ceder.
César enviou espadas de madeira a ambos e palmas a ambos:
Portanto, a coragem e o talento receberam o seu prémio.
Isto não aconteceu perante nenhum príncipe salvo tu, César:
Quando dois lutaram, ambos foram vitoriosos.(Marcial, De Spectaculis, XXIX. Fonte: Wikipedia)
Desvendando a engenharia romana
A engenharia romana serviu de referência para nossos dias. O Coliseu, por exemplo, é modelo de engenharia para todos estádios esportivos do mundo atual. A eficiência dos materiais e técnicas empregadas, a solução de problemas de topografia, iluminação e ventilação natural, a precisão dos cálculos e tantos outros elementos causam profunda admiração nos engenheiros de hoje.
Para compreender melhor as soluções arquitetônicas dos construtores romanos, uma equipe de especialistas norte-americanos decidiu fazer na prática, o que os antigos fizeram. Liderados pelo engenheiro Steve Burrows , o arquiteto Charlie Luxton, o construtor Kris Carrol e a especialista em arte e arquitetura antiga Melinda Hartwig – eles experimentaram técnicas e materiais tais como os empregados pelos romanos antigos e construíram uma grua, em tamanho natural, com uma roda movida a força humana.
Construção do Coliseu: vídeo (em espanhol)
O trabalho da equipe interdisciplinar buscou responder as questões abaixo (elas podem servir de roteiro na exibição do vídeo em sala de aula):
- Como os romanos chegaram a esse desenho arquitetônico?
- O que pretendiam seus construtores?
- Por que o desenho arquitetônico não mudou nesses dois mil anos?
- Que solução os construtores deram para o fluxo de milhares de pessoas de maneira a permitir entrada e saída seguras e rápidas?
- Como acomodar 50 mil pessoas de maneira que todas possam ver o espetáculo?
- Que solução encontraram para equilibrar peso e altura em um edifício de proporções tão grandes?
- Qual a função dos arcos na arquitetura do Coliseu?
- Que elemento arquitetônico sustenta todo peso do estádio?
- Como os romanos conseguiram levantar blocos de pedra de 2 toneladas a 50 metros de altura equivalente a um edifício de 15 andares?
- Como resolveram o problema do terreno alagadiço sobre o qual foi erguido o Coliseu?
- Como transportar os animais selvagens de suas jaulas, abaixo do piso, para a arena? E ainda, como colocá-los no centro da arena de maneira a surpreender os espectadores?
- Por que utilizaram a forma elíptica para o Coliseu?
Aqueduto: impressionante engenharia hidráulica
Na parte final do vídeo (30:10) é analisada uma a questão crucial na história urbana de Roma: o abastecimento de água para uma população de 1 milhão de habitantes. Roma possuía somente uma fonte de água: o rio Tibre.
A fonte de água potável mais próxima estava a 40 km da cidade. Para fazer essa água chegar das montanhas até a cidade, os romanos escavaram túneis na montanha por onde a água fluía somente pela força da gravidade. O grande desafio foi calcular a inclinação correta do túnel: se fosse pouca, a água não chegaria a Roma, se muito acentuada, a força da água romperia as paredes.
No século I d.C., Roma era abastecida por catorze aquedutos que levavam, diariamente, cerca de mil litros de água por habitante. Um dos monumentos mais famosos de Roma, a Fontana di Trevi, construída no séc. XVIII, é ainda hoje abastecida por um daqueles condutores de água projetado há mais de vinte séculos, o Acqua Vergine.
Questões que o vídeo coloca sobre a construção do aqueduto de Roma
- A que resultado os engenheiros romanos chegaram sobre a inclinação do túnel?
- Com que material ele foi revestido para evitar que a água penetrasse nas pedras?
- Como garantir que a água chegasse com uma pressão adequada até Roma?
- Qual era a função dos contrafortes construídos na parte externa dos aquedutos?

Aqueduto de Gard, na França, 49 m de altura e 262 m de extensão. Obra romana do séc. I a.C., levava água à cidade de Nîmes de uma fonte a 50 km de distância.
As cidades do Império Romano também foram equipadas com os edifícios e estruturas que existiam na capital imperial. Tarraco, por exemplo, capital da Hispânia Citerior, província na Península Ibérica, possuía um anfiteatro para 14 mil pessoas e um circo (para corridas de cavalos) com capacidade para 23 mil pessoas.
A RTVE da Espanha produziu um vídeo que reconstrói, por animação em 3D, cinco obras romanas: o anfiteatro, o circo, o fórum com sua basílica e o templo de Augusto que existiam na antiga Tarraco (atual Tarragona). Inclui, ainda, o aqueduto de Gard, em Nîmes.
Clique aqui para ver os vídeos em 3D sobre Tarraco
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